Talvez eles não se tornem por isso os próximos empreendedores espaciais e fechem contratos bilionários com a Nasa, mas com certeza aumentaram suas chances de se tornarem melhores professores, aprendendo formas de ensinar os conceitos básicos da Física e da Astronomia de modo mais atrativo.
Davi, Paloma e Gerson, três alunos da Licenciatura em Física do Campus Professor Alberto Carvalho, em Itabaiana, ganharam medalha de ouro e prata em duas categorias da Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG), parte prática da maior competição científica nacional, a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica.
A competição experimental, que acaba estimulando estudantes a se interessarem pela Física, Astronomia, Química, Engenharia e outras áreas do conhecimento, consiste em construir e lançar, o mais distante possível, foguetes artesanais, fabricados com corpo em garrafa PET, a partir de uma base de lançamento.
Unindo em um tubo de PVC nitrato de potássio e açúcar de confeiteiro, acionados à distância por meio de um dispositivo com corrente elétrica, os alunos obtêm uma mistura inflamável que funciona como combustível para o artefato. É a categoria chamada de “Propelente sólido”, na qual os três estudantes obtiveram medalha de ouro, atingindo uma distância de 165 metros.
José da Silva Menezes, técnico de laboratório do Departamento de Física (DFCI) e responsável pela equipe, explica que “o lançamento desses foguetes envolve temas como lançamento oblíquo, velocidade, impulso, quantidade de movimento, balanceamento de massa, centro de pressão, dentre outros. Não é como um foguete que vai ao espaço, isso aqui é algo amador, mas os conceitos básicos utilizados são os mesmos”.
Outra categoria em que os alunos participaram foi a de “Vinagre e Bicarbonato de Sódio”. Quando misturados, esses dois elementos geram uma mistura efervescente que instantaneamente pressuriza a garrafa e acaba por fazer a propulsão do projétil. Nessa divisão, os alunos conseguiram medalha de prata, atingindo uma distância de 125 metros.
Gerson Souza Menezes, aluno do oitavo período, avalia que o projeto foi de grande ajuda na sua formação docente. “Conheci esse projeto há poucos meses, e ele me trouxe uma contribuição bastante significativa. Acredito que vai me auxiliar a fazer projetos semelhantes com os meus futuros alunos e estimulá-los a gostar da área. Já tenho essa experiência, de como funciona um projeto prático assim, e isso certamente vai me auxiliar.”
Sua colega de curso e de competição, Paloma Farias Oliveira, aluna do sexto período, testemunha algo semelhante. “Essa foi uma das melhores experiências vivenciadas na universidade. A gente começa a viver e aplicar teorias na prática, tanto com o técnico quanto com os colegas – e a gente nem se conhecia, a princípio. Hoje eu vejo tudo de forma diferente, é algo que eu quero levar para a sala de aula, trazer Física com um novo olhar”.
Os estudantes do campus Professor Alberto Carvalho participaram da MOBFOG no Nível 4, destinado a alunos do Ensino Médio e Ensino Superior, e estiveram junto a discentes do Colégio Estadual Murilo Braga, onde José também trabalha como professor. “Esse foi outro aspecto importante do projeto, para que os alunos da Física tivessem, desde já, esse contato, essa interação com a escola, na qualidade de professores em formação.”
Além das competições, José conta que, estimulado pela direção do campus, pretende abrir o projeto para que alunos de outros cursos possam participar da experiência de construção e lançamento de foguetes, utilizando o material já disponível. “A ideia é termos oficinas que durem, digamos, uma semana, e na qual os alunos possam participar de todas essas etapas”, explica.
“Eu já participei de muitos projetos aqui na universidade, mas esse foi muito prático, bem divertido de projetar, e acredito que é um projeto que ajuda o aluno a interagir, participar, e bom também pela forma como a gente aplica a ciência ali”, explica Davi da Mota Oliveira, aluno do nono período.
Uma jornada pela frente
As equipes com desempenho acima de 80 metros em cada estado na MOBFOG são selecionadas para participar da Jornada de Foguetes, que ocorre no estado do Rio de Janeiro, onde terão a oportunidade de fazer seus lançamentos – agora apenas na categoria “Vinagre e Bicarbonato de Sódio” – perante uma comissão nacional julgadora.
José e os alunos querem se preparar para esse momento. Pretendem fazer melhorias nos foguetes, aperfeiçoando a geometria, imprimindo peças em 3D e testando outros materiais que vão acoplados ao corpo em garrafa PET, fazendo testes para encontrar a melhor proporção entre os elementos propelentes, e realizando lançamentos para verificar a eficácia das alterações.
Mas o que falta para levar esse foguete a voos mais altos é ajuda financeira. A equipe está correndo em busca dos recursos que viabilizem a viagem e acomodação no município fluminense de Barra do Piraí, onde a competição ocorrerá de 28 de novembro a 1º de dezembro.
“Existem dificuldades, principalmente financeiras, mas a gente está lutando. Planejamos algumas coisas, e vamos nos preparar muito mais para essa segunda etapa, para que os resultados sejam muito melhores que os da primeira – até porque, para a MOBFOG, projetamos tudo de forma muito rápida. O plano agora é utilizar esse tempo, até novembro, para buscar recursos e também aperfeiçoar nossos foguetes”, explica Davi.
Para saber mais sobre o projeto, clique aqui ou aqui.
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