A Lei Lucas, sancionada em 2018, obriga as escolas públicas e privadas e espaços de recreação infantil a se prepararem para atendimentos de primeiros socorros. No entanto, a norma ainda não está sendo cumprida de forma abrangente no país.

Com um olhar para essa situação, a organização do 14º Encontro Estadual de Química (Enesquim), realizado no campus de Itabaiana da Universidade Federal de Sergipe (UFS), incluiu na programação uma capacitação sobre primeiros socorros voltada aos profissionais da educação básica da cidade, de escolas públicas e particulares.

Segundo o professor Marcelo Leite, que lidera a organização do Encontro, a ideia surgiu para incluir uma atividade que envolvesse a comunidade externa – já que o evento como um todo é voltado para o público acadêmico da área de Química –, além de contribuir para a difusão da Lei Lucas.

“A gente pensou em capacitar o pessoal da educação básica, um tema bastante relevante, uma lei de 2018, e que, pelo que levantamos, não tem conseguido aplicabilidade”, disse Marcelo.

“Então entendemos que, como universidade, podíamos lançar uma ‘centelha inicial’: a gente traz a comunidade, as escolas, e aí tentamos fazer essa provocação, para que os participantes saiam daqui cientes da importância de que as instituições façam também essas capacitações no ambiente escolar”, explicou.

A aprovação da Lei Lucas foi motivada após um acidente que ocorreu com Lucas Begalli, uma criança de 10 anos de idade, que perdeu a vida depois de um incidente em um passeio escolar, em que o garoto sofreu asfixia mecânica após ingestão de um alimento.

Para o trabalho e para a vida

Elizabete Cristina trabalha com crianças em uma escola particular, em Itabaiana, o que a levou a se interessar pelo treinamento. No entanto, a motivação vai além da preocupação com os alunos, já que ela tem uma filha pequena e já passou por uma situação que a deixou aflita.

“Quando ela tinha seis meses, fui dar uma medicação na seringa, ela engasgou, ficou roxa. Ainda bem que minha mãe estava presente, fez um procedimento e conseguiu ajudar. E eu fiquei apavorada, porque não sabia o que fazer”, narrou Elizabete, mãe de Heloísa, três anos.

A profissional cita também que já passou por outras situações de menor gravidade, tanto com a filha, como na escola onde trabalha – nesta, uma criança pôs um “pompom” de cabelo no nariz; a situação foi resolvida com mais tranquilidade mas deixou o alerta para a qualificação em primeiros socorros.

“Estou gostando muito do treinamento, espero que todos os profissionais de educação e mesmo pais e mães possam aprender primeiros socorros, é muito importante”, afirmou.

Ainda estudante do terceiro período de Química no Campus de Itabaiana, Vanessa dos Prazeres Santos já está decidida que seguirá a carreira docente – ela inclusive já participa do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência da UFS. Por isso, a discente vê na capacitação um importante suporte para sua futura profissão.

“O treinamento é um dos aspectos que envolvem o dia-a-dia do professor, então é importante estar preparada para ocorrências desse tipo, para que você possa ajudar esse aluno em uma situação de emergência”, pontuou Vanessa.

Responsável pela capacitação, José Nilson dos Santos observa que se trata de um aperfeiçoamento básico. “É um treinamento de primeiro socorro inicial, considerando tratar-se de um público leigo. Ou seja, como proceder em uma parada cardiorrespiratória, por exemplo, quais instituições a quem podemos solicitar apoio em eventos como esses”, citou o enfermeiro, que é servidor do campus e possui mestrado em Ciências da Saúde.

“A Lei Lucas ainda é pouco divulgada. Estamos apresentando a lei, o porquê de ela existir, e iniciar o conhecimento de primeiros socorros, para que os participantes levem o tema para as instituições, e que tenham um efeito multiplicador, solicitando as capacitações anuais, em primeiros socorros, e que [o treinamento] seja contínuo”, finalizou.